sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Vi um cavalo embaixo do tapete...

Até agora esse foi um espaço limpinho e cheiroso, com pretensões poéticas. Mas hoje fiquei com vontade de estragar um pouco a limpeza dos ares. Para isso... segue abaixo comentários de uma coluna de um jornalzinho de uma cidadezinha brasileira que se diz européia:
Carroças
Afinal, as carroças vão continuar circulando pela cidade ou vai ser tomada uma providência? Este assunto já está ficando chato mas, convenhamos, a municipalidade tem que fazer alguma coisa para melhorar o visual e ambiental da cidade. Não é possível em pleno século XXI, numa cidade que quer ter ares europeus e foi colonizada por europeus, conviver com uma situação dessas.
Carroças I
Anos atrás foi feita uma lei que obriga emplacar as carroças. Emplacar carroças? Não tem outra prá contar. Se é proibido impedir a circulação de carroças, porque nos outros municípios não se vê isso. Imaginem uma carroça fuçando nas latas de lixo na rua? O que os turistas iam pensar de uma situação dessas? Uma carroça parada na frente do Parque do Imigrante. Está na hora das autoridades municipais tomar providências sérias com relação ao assunto. Ninguèm quer morar numa cidade onde tem que conviver com carroceiros andando pela rua. Nada conra eles, estão trabalhando. Entretanto, tem coisas que tem que ser proibidas e cada um que se vire.

É isso o que disse o sujeito, pelo que me informei, dono do jornal. Aberto a comentários, indignações, apoios ao sujeito, e principalmente, vômitos.... na cara dele... pra sujar de vez heheheh.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Domingos

dias de sol mesmo sem ele.

silenciosa,

escuto suas vozes estridentes

e seus gritos exagerados.

rio

falo ou

calo,

só o que quero

é respirar.

respirar profundamente o colchão com cheiro de tudo:

migalhas e peles.

presentes

dessas presenças

que sujam bagunçam e dão graça à minha vida.

para os meus amores, que enchem a minha casa de cabelos e solidões

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Dizem-no pedante

Deixa o fogo arder. Te envolver lento, estalando sôfrego. Começar manso, atrapalhando teus pés. Dominando aos poucos teus passos, lambendo tuas pernas que sem ele agora sentiriam frio. E embrutece, machuca a carne, te faz gemer. E cansada de lutar te deixas incendiar, torna-te fogueira.
Qualquer luta já é em vão... e quando não foi em vão lutar contra o fogo? Entrega-te, deságua, desatina de tanto calor. Enebriada, deixa Hefaistos te forjar.
Resseca, vira cinza. Ou acaso pensas que evitando o fogo não te tornarás?

Pra Thaiane, com calor

domingo, 4 de novembro de 2007

Não conseguia mais entrar no banheiro. Estava apaixonado. Esta poderia ser uma traição à moça que dormia com ele. Ela (a moça) não merecia isto. E no entanto era culpada. Ela tinha o corpo tão perfeito, todo "infladinho nos lugares certos". Era toda conforto. Um dia fora apaixonado por essas formas. Mas agora, quando entrava no banheiro, ela estava lá. Já dissera para a empregada tirá-la, mas ela sempre voltava. Estava sempre lá com sua voluptuosidade, com seu desleixo provocador, ao lado do espelho, contornada pela gravidade, esperando para ser tocada e quando tocada perdendo uns pedacinhos, fiapos. Para livrar-se do terror, tinha o ímpeto de pegá-la e dobrá-la, deixá-la quadradinha e comportada, mas essa também era uma traição. Deveria ser proibido dobrá-las! Elas, que com sua disposição ao acaso, formam curvas, ondas, voltas, pregas parecidas com as dos vestidos das mulheres. Mas as saias e os vestidos em geral têm donos, elas não são esse abandono, esse próprio corpo perdido e sem forma das toalhas penduradas, as toalhas jogadas.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Tinteiro

Tinto
Tinta
Tinto
Tinta

Tinto tinta
Tinto tinta
Tinto tinta tinto tinta

Tilintam.

Deixa borrar.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Do Amor

Nature Morte - Princesse-Javel (Deviantart: http://princesse-javel.deviantart.com/art/Nature-Morte-53039726)

Perversa invenção

O amor a algo

Salve sábio Mário.

Prisioneiros todos os que não o escutaram

Agora esperam pela morte

De um amor.

Perversa invenção

O objeto de amor.

Salve sábio Mário!

Prisioneiros todos os que não o escutaram

Agora esperam pela morte

Para libertarem-se

De um amor.

Agora esperam pela morte (do outro)

Para se verem livres

Do amor.


Goya - Andarse por las ramas - Proverbios o disparates

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

The Aliens

"Você pode não acreditar nisto
mas há as pessoas
que passam pela vida com
muito pouca
fricção de angústia.

eles se vestem bem, dormem bem.
eles estão contentes com
a família deles.
com a vida.

eles são imperturbáveis
e freqüentemente se sentem
muito bem.
e quando eles morrem
é uma morte fácil, normalmente durante o
sono.

você pode não acreditar nisto
mas tais pessoas existem.
mas eu não sou nenhum deles.

oh não, eu não sou nenhum deles,
eu não estou nem mesmo próximo
para ser um deles.

mas eles
estão lá ...

e eu estou aqui."

Bukowski

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Devir Imperceptível

Guitarra, contrabaixo, bateria, piano, sax, trompetes, tocavam há um bom tempo. Músicos também na pequena platéia, bocas abertas, cigarros para acompanhar, todos extasiados, concentrados, quase isolados perdidos em mínimos detalhes e em acordes menores. Era gorda como uma cantora de ópera, mas ninguém a viu entrar, por pouco não a ouvem também cantar. Sentiu-se apenas uma vibração a mais junto aos trompetes. Desviaram-se os olhos das mãos e das bocas dos instrumentistas para procurar. Ela era uma vibração a mais. Hipnotizante vibração a mais de sua voz junto aos trompetes. Ela era gorda como uma cantora de ópera, mas cantava jazz.